Vamos agora a um assunto que eu
tenho certeza que ninguém nunca parou para se questionar: afinal de contas, de
que forma devemos construir nossa intimidade?
Construir intimidade? Como assim?
No modelo de relacionamento amoroso
atual, o que nós fazemos é muito mais uma desconstrução, ou melhor, uma
destruição da intimidade, do que propriamente uma construção.
Senão, vejamos...
No modelo de relacionamento
amoroso atual, somos primeiramente conduzidos por nossos instintos
sexuais. As mulheres até não se
concentram tanto nisso, embora primariamente sejam questões de aparência e
atitude que irão gerar nelas interesse de ter intimidade com alguém. Mas no caso dos homens, o que realmente conta
é a aparência física da mulher, e o quanto ele se sente atraído por ela.
Então passamos para a
aproximação, a conversa...
Bom, vamos desconsiderar que as
novas gerações já nem se importam mais com esse modelo tradicional de sedução,
cantadas, papos para se conhecer... Eles
já partem logo para o beijo na boca! E
se as circunstâncias, e o ambiente forem favoráveis, muitos já partem para o
sexo propriamente dito. As garotas hoje,
muitas vezes já facilitam isso usando vestidos e nenhuma calcinha por baixo.
Enfim, mas vamos deixar de lado
esses casos extremos de objetividade insana, e vamos analisar o modelo
tradicional de sedução, que também tem defeitos!
No modelo tradicional, um tanto
quanto esquecido hoje em dia, existe o primeiro encontro. O consenso diz que não se deve transar nesse
primeiro encontro! Apenas uma conversa
para se conhecer melhor, avaliar compatibilidade, gostos em comum, um pouco da
personalidade, coisas desse tipo. Mas
não nos enganemos: a vontade de se pegar já é enorme, o tesão já está nas
alturas!
Então tem o segundo encontro, e
muita gente já considera que já é hora de dar vazão ao tesão. E muitos dão!
Mas é aí que começa a desconstrução da intimidade...
Todos partem do princípio que,
com toda a cultura pornográfica existente, muitos são verdadeiros profissionais
do sexo, e sabem muito bem o que fazer na hora.
Só que a coisa não é bem assim...
Ele gosta da coisa agressiva, de
penetrar em diferentes posições, algumas extremamente incomodas. Gosta de puxar o cabelo, de dar estocadas ao
estilo britadeira insana, sem dó nem piedade do genital feminino. Ele só quer mostrar que tem resistência e
pode demorar muito tempo sem ejacular.
Esse parece ser o ideal de
desempenho sexual, o "cara de pegada", o que sabe o que quer! Mas ele quer também enfiar por trás...
E então? Encontrou o "Cara" dos seus
sonhos? Você, mulher... era exatamente
isso que você queria? Algumas gostam sim
desse tipo de desempenho. Mas... E se
isso não é o seu caso? Vamos dizer que
você esperava um cara mais Tântrico, que saboreia o momento... Mas não!
Ele é o típico ator pornô, que aprendeu a transar vendo filmes. Ele gosta disso! Mas e você, mulher? É isso mesmo o que você queria? Em algum momento você parou para dizer a ele
como é que você gosta? E mesmo que tenha
dito, será que ele entendeu a mensagem?
Mas vamos dizer que você tenha
gostado! Pronto, você encontrou o homem
da sua vida! Resolve casar com ele. Se casam.
Mas a coisa começa a entrar em uma rotina. Começa a ser repetitiva aquele malabarismo
sexual todo. Digamos que você começa a
ter problemas vaginais com toda essa estocada sem piedade. Você começa a querer se proteger dessa
"violência sexual" repetitiva.
Ele começa a perceber o seu
desinteresse pelo que tinham. Mas ele
achava que estava tudo bem, era tudo que você sempre quis na visão dele!
Entendem agora porque eu digo que
é uma "desconstrução" da intimidade?
Claro, estou aqui pulando aquelas
situações em que o cara até é amoroso, tem interesse na coisa tântrica, mas
nunca nem ouviu falar nisso! E ele dá
uma broxada na primeira vez de vocês.
Tudo bem, é normal, tá ansioso...
Mas ele broxa de novo, e vocês começam a achar que ele tem um sério
problema e que precisa se tratar com um psicólogo. Você até gosta do cara... Talvez seja só amizade!
Nossa! Isso é a morte para ele! E daí? Ele não consegue ser o "Ator Pornô",
mas isso não significa que ele tenha que ser dispensado! Mas ele quer ser o "Ator Pornô", e
vai correr atrás de tentar ser isso para poder agradar mulheres como você. Mas isso não é ele...
E quanto a mulher? O que ela quer, sexualmente falando? O Ator pornô pode ser legal, o tal do
"Sexo Selvagem"... Mas tem uma
hora que essa coisa mecânica também cansa!
Ou será que não? Como saber? Será que você se conhece de verdade? Costuma pensar em sexo? Já se permitiu alguma vez pensar em
sexo? Ou costuma acreditar na ladainha
da sociedade de que isso é pecado? Uma
mulher de família deve ser recatada...
Mas os homens querem que você seja uma profissional do sexo na cama! Como ser assim sem pensar, ou sequer exercer
sua sexualidade?
Mas vamos considerar aquela que
sim, pensa muito em sexo! Quer isso
sempre! Está acostumada a se masturbar,
tem uma sexualidade solta. Quer ter com
vários homens, não quer compromisso porque sabe que com o tempo, e com a
rotina, aquilo perde a graça. Vive bem
sozinha, não está nem aí para casamento!
Conhece seu corpo, está feliz com ele, procura sempre manter uma boa
forma em academias. Talvez até paquere
nessas academias. Mas nada muito
longo! Ela só quer o sexo para dar
aquela aliviada no tesão. Mas tem dias
que pinta aquele vazio no peito... Bate
uma solidão feia!
Eu talvez esteja fugindo um pouco
do tema neste último relato. Mas na
verdade não!
Já falei em textos anteriores
sobre a importância de se auto-conhecer profundamente, e de desenvolver a sua
consciência espiritual, pois só dessa forma podemos verdadeiramente ser felizes
e ter condições de ter um relacionamento sexual saudável. Será que essa "Mulher Livre" se
conhece de verdade? Será que ela sabe
das necessidades do espírito? E se esse
sexo casual é tão bom, porque ela está sempre buscando mais em outros
parceiros? Será que isso a faz feliz de
verdade? Ou é só uma satisfação de um
vício, uma fuga para se esquecer da dor que reside em sua alma? A falta de consciência de ser um espírito em
um corpo, e não um corpo com um espírito dentro, que vai morrer junto com o
corpo.
Conseguem visualizar a coisa da
desconstrução da intimidade? Temos
dificuldade de sequer ter intimidade consigo mesmos. Que dirá com uma outra pessoa!
Um relacionamento, seja ele
duradouro ou não, não deve ser iniciado só baseado em instintos sexuais. O sexo não deve ser a prioridade para se
iniciar um relacionamento amoroso, seja ele de longa duração ou não. Mesmo que se tenha a intenção de ser
duradouro, ele está fadado ao desastre.
O sexo deve se originar dentro de
cada um de nós, e é à partir de exercermos nossa sexualidade é que teremos
condições de assumir um relacionamento sexual a dois saudável.
Em textos anteriores eu já falei
da importância de se auto-conhecer, de forma espiritual primeiramente, e de
forma sexual também, uma vez que já se tenha a consciência de saber quem
realmente somos. Isso é primordial. Mas uma vez atendidas essas necessidades, uma
vez que a pessoa se conheça de forma espiritual e de forma sexual, já sabe das
suas zonas erógenas, já sabe de que forma gosta de ser acariciada, já tem
controle total de seus orgasmos, já se tornou uma pessoa plena e feliz consigo
mesma... Agora é hora de compartilhar isso com alguém! E que seja compartilhado, e não uma co-dependência
um do outro. E nem uma relação de uso e
descarte também!
Uma relação amorosa deve começar
como uma amizade prazerosa, onde um conheça intimamente, de forma espiritual,
um ao outro. Uma vez que cada um já se
conhece dessa forma, isso se torna algo natural e fluído.
Mas isso não pára por aí! Não basta simplesmente, em um próximo passo,
simplesmente tirarem as roupas e partirem para o sexo. É importante discutirem suas preferências, um
do outro, o que cada um gosta sexualmente, considerando que já tenham se
descoberto dessa forma. É interessante,
no processo de construção dessa intimidade, que primeiramente os dois se
acostumem a se ver nus, e que estejam à vontade de ficar sem roupas um com o
outro.
Em uma primeira vez, o ideal é
que se repita, de certa forma, as regras do "Primeiro Encontro":
Simplesmente se posicionem sem roupas, um em frente do outro, apenas apreciando
o "Templo" de cada um, com respeito, com admiração, com carinho. Devem começar por uma postura meditativa
naturista, apenas sentindo a simples presença um do outro, e apreciando essa
presença estando plenamente presente, sem pensar em mais nada, em nenhuma conta
para pagar, ou que tenha que buscar as crianças na escola. Apenas estão ali, um para o outro, sem pensar
no tempo. É dessa forma que se exercita
o "Estar Presente".
Conversem naturalmente. Obviamente sobre assuntos de ordem
íntima! Num segundo encontro, ainda com
o intuito de aprimorar essa intimidade um com o outro, talvez seja interessante
apenas mostrarem como se masturbam.
Masturbar-se em frente a pessoa que se ama pode ser um desafio, uma vez
que já não se trata mais de um ato solitário de auto-prazer, mas algo que já
começa a ser compartilhado. Mas é nessa
observação um do outro que os parceiros começarão a aprender como cada um gosta
de se estimular sexualmente, onde gosta de ser acariciado, de que forma.
Num terceiro momento, com essa
intimidade se tornando cada vez maior, já se pode partir para a troca de
carícias um com o outro, uma vez que já se tenha aprendido de que forma cada um
gosta de ser estimulado e acariciado.
Não se preocupem com penetração, apenas apreciem mais uma vez a carícia
de cada um estando plenamente presentes no momento. Desta forma, com essa intimidade crescente,
as inibições desaparecem, as ansiedades se dissolvem, e a coisa toda vai
fluindo naturalmente, de formas que no momento certo a penetração será
simplesmente algo natural e muito prazeroso.
E por favor, esqueçam a
britadeira insana! Uma vagina não é um
cilindro! Não é um "buraco"
que precisa ser perfurado ou alargado. A
penetração deve ser uma massagem, uma carícia entre os genitais. Mesmo que resolvam experimentar até mesmo uma
penetração anal, e principalmente nesse quesito, considerando que o ânus não
tem a lubrificação que tem a vagina, que seja bem lento, em um ritmo de
massagem e carícia.
E toquem-se! O toque é primordial na relação, e que seja
no corpo inteiro. Lembrem-se: nós nos
relacionamos sexualmente com uma pessoa, um espírito em um corpo de carne, e
não só com um genital.
Mais uma vez desejo ressaltar que esse modelo de desenvolvimento de intimidade vale para casais heterossexuais e homossexuais.